sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Por Dentro da Moda: André do Val

"Eu trato blogueiras como um reality-show de TV"


             E depois de um longo tempo voltei com a série de entrevistas que faço com gente interessante e descolada, eu o convidei, pois seu trabalho na área é brilhante e tem uma linguagem ótima tratando a moda de uma maneira despretensiosa como procuro tratar aqui no blog.

            Para quem não conhece, esse rapaz é o editor de uns dos sites mais populares quando se fala de moda o Chic de Glória Kalil além de ter trabalhado com Erika Palomino editando o site e a revista Key, que eu tenho quase todos os exemplares  e com a querida Júlia Petit no site Petiscos. Portanto nada mais pertinente que reativar essa seção com ele que é um gentleman e sabe tudo de moda.

1 – Inicialmente obrigado por ter concedido essa entrevista, agora como começou sua relação com a moda em si? Houve influência de algum familiar?

Oi Rodolfo! Eu tenho uma memória muito forte da minha avó, que tem muitos sapatos e muitas joias, alguns deles ela deixava a gente brincar quando era pequeno. Minha irmã e minhas primas se divertiam muito mais, mas eu tenho esta imagem dela de ser alguém interessada com roupas e com estilo. Fora que é muito comum na minha família, que é muito grande e com muitas mulheres, perguntarmos uns ao outros:  “estou bem?", "isto combina com isto?", então é um exercício que faço desde pequeno, de se vestir com cuidado, de comunicar por meio da roupa...·.

petiscos


2 – Nas minhas pesquisas antes de te entrevistar descobri que você é formado em publicidade pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), com essa formação como analisa a publicidade na área de moda?

Eu me considero mais um profissional de comunicação do que um profissional de moda. Então a transição maior pra mim foi da publicidade para o jornalismo do que para a moda. Mas a publicidade de moda no Brasil é algo ainda em desenvolvimento, né? Das mais antigas eu gosto muito das campanhas de jeans (Dijean, Staroup, Ellus...). Hoje em dia Giovanni Bianco é um dos mais importantes, que eu admiro muito por usar atrizes de novela, porém numa situação de moda. É uma combinação que nem sempre dá muito certo, mas ele faz bem. Acho que o caminho é um pouco este, manter a linguagem de moda, mas usar mulheres que comuniquem com um público maior. A moda brasileira precisa disto, se comunicar melhor com o grande público.

 


3 – Você trabalhou e trabalha com grandes nomes da moda como Erika Palomino, Júlia Petit e Glória Kalil o que você guardou dessas suas experiências para sua vida profissional?

A Gloria minha mentora há mais de 10 anos. Ela não me ensinou só a trabalhar, mas como se portar em várias situações na vida pessoal também. Ela é bastante exigente e isso acaba me puxando pra cima. Fora a experiência industrial e de varejo que ela tem, que é bem diferente deste mundinho de passarela que a gente acaba ficando preso. A Erika foi uma grande escola de jornalismo e a Julia de publicidade, duas áreas que eu tenho tentado cada vez mais fazer conversar aqui no Chic, então tenho dois bons pilares para me sustentar.

4 – no SPECOERA (evento de Chiara Gadaleta) em setembro você participou da mesa moda para todos, acredita que agora em 2012 realmente a moda está para todos?

Não diria para todos, mas com certeza está mais abrangente. Daqui pra frente, vai ser cada vez mais frequente a criação destes novos nichos e acredito que as marcas estão se preparando para atendê-los da forma mais ágil possível. Mas temos que ver também se "todos" querem fazer parte deste sistema de renovação constante que é a moda, né?


5 – Como você enxerga hoje a ascensão dos blogs da área de moda?

Não diria que os blogs estão em ascensão, pelo contrário, acho que estão todos se estabelecendo, depois de um período de excitação em torno deles. Qualquer novidade nesta área de comunicação é válida, é um segmento que, como a moda, vive de renovação. Fora que a linguagem dos blogs acabou pautando os sites maiores e até revistas. Muitos blogs tentaram pegar carona nesta onda, mas agora acho que o momento é de separar o joio do trigo. Agora vai dar pra saber com mais clareza quem vai ficar e quem estava nessa apenas pela euforia da época.

6 - Sei que você deve ter respondido essa pergunta dos blogs diversas vezes, porém digo em questão de conteúdo desses veículos como você analisa?

Como eu analiso os blogs? De novo, acho que eles ajudaram a refrescar a comunicação de moda. Eu trato blogueiras como um reality-show de TV. Elas representam um segmento de moda muito próximo do consumidor final e estas meninas conseguiram falar com o grande público de um modo que nunca havia acontecido. É claro que tem as picaretas, né? Mas acho que o leitor já sabe diferenciar quem presta e quem não.


 7 – Em 2012 houve uma mudança no calendário para aproximar o SPFW e Fashion Rio das semanas de moda internacionais, em sua análise será benéfico? O mercado brasileiro terá tempo hábil para se adaptar a essa nova era?

Uma correção. O SPFW e o Fashion Rio já eram alinhados com as semanas de moda internacionais. Ambos aconteciam antes do primeiro evento, que sempre foi em NY, e agora eles passam a acontecer depois. Este alinhamento mais recente é para aumentar o tempo que a indústria brasileira teria entre o desfile e a chegada da roupa na loja, como acontece no exterior. Aqui este período sempre foi muito curto e é claro que todos vão se beneficiar de um pouco mais de planejamento. O complicado foi este ano, pois como encavalou tudo, com três semanas de moda em um ano, as marcas estão sem dinheiro para fazer desfiles, que é uma ação muito cara. No ano que vem tudo volta ao normal e logo já vão estar todos muito bem acostumados com esta nova realidade.



8 - Acho que vocês jornalistas devem receber vários mimos para “falar” de uma marca, quais as técnicas que vocês usam para driblar esse tipo de coisa, isto é manter a ética na profissão já que muitos profissionais de blog na área de moda tem esse péssimo hábito de esquecê-la por causa de Jabás, como você lida com isso?

A gente não recebe mimo pra falar de uma marca. A gente recebe produtos para serem usados, analisados, avaliados... Talvez mencionados em nossos veículos, até. Mas nunca ninguém me mandou algo pedindo em troca uma reportagem. Conheço pouquíssimos veículos ou jornalistas que trabalham desta maneira, pedindo produtos em troca de uma nota, e nenhum deles está no top cinco. Eu aceito tudo até por que chegam coisas pra mim que eu nem sei de onde veio, mas nunca condicionei isso ao que escrevo. A única gentileza que faço é mencionar a marca caso alguém elogie, ou caso saia em fotos. Por exemplo, tenho um amigo em uma marca mineira que me dá vários tricôs lindos toda vez que vou pra lá. Eu nunca fiz um post sobre isso, mas faço a maior propaganda entre os amigos.

9 - Agora peço que você deixe um recado aos leitores e se possível três dicas para iniciar nessa área de jornalismo de moda.

Jornalismo de moda é gostoso, sim, mas assim que você começa a trabalhar com isso, 70% da imagem que você tem de glamour e sedução vão por água abaixo. É uma profissão, um trabalho como qualquer outro,que requer muita dedicação.

*Leiam bastante, tanto revistas de moda quanto livros de história,
romances, jornais... Textos em moda tendem a ser muito fracos.

*Vão ao cinema, para alimentar o repertório de imagens nas suas
cabeças. Assistam a TV também, ouçam música, consuma cultura... A moda
pela moda não se segura sozinha.

*Viajem bastante, para entender que tudo pode ser visto de outra maneira.

Por fim, procurem por outras áreas mais segmentadas, como economia da
moda, moda masculina, plus size ou infantil. Nem todo mundo senta na
primeira fila, mas o conhecimento especializado pode ser uma maneira
de entrar na redação de grandes revistas ou sites.

Abs e bom fim de semana·. 
(Fotos retiradas de: Trash 80's  ,Come to The Catwalk,Das Bancas ,Petiscos,namidia ,vistuissu e Flickriver: Erika Palomino)

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